C. G. Jung (Sobre os sonhos e transformações)
... O que o homem deve fazer com sua natureza passional, primitiva, ctônica (mundana), animal? [com os medos?]
... Ninguém é capaz de lidar com isso, ninguém sabe como lidar com isso, estamos completamente perdidos com esse problema.
Antes de tudo, é preciso ter consciência disso!
Naturalmente, o analisando [pessoa que procura ajuda] perguntará: "O que fará a respeito?"
Responderei: "Perdoe-me, senhora, não farei nada a respeito, não estou preocupado com sua maldita natureza instintiva, isso é problema seu" [rsrs]
E devo dizer o mesmo a um homem. Não sei, não tenho prescrição. O que pode ser no seu caso? Ninguém é capaz de dizer. Ninguém sabe.
Naturalmente, o analista [terapeuta/ auxiliador], por razões de prestígio, sente que deveria dizer:
"Bem, a senhora sabe..."
"Veja, o instinto [medos] precisa ser sublimado."
Ninguém sabe como sublimar algo assim, isso é um disparate!
Agora, o que eu [Jung] digo a uma pessoa desse tipo é o seguinte:
"Vá dormir, pense sobre todas as coisas que a preocupam, sobre questões impossíveis de ser respondidas e veja o que sonha".
Não tenho resposta. Ninguém tem respostas. Agora veja como sua própria natureza ou o inconsciente ou sabe lá Deus o quê, veja como isso reage.
Mas, claro, essa é a suposição subjacente dos índios, que o Grande Homem Velho irá falar, o Homem Velho de dois milhões de anos irá falar, essa é uma situação vital; há um impasse, nos encontramos em um beco sem saída - e apenas então escutaremos a voz e Isso falará no sonho.
Essa é a razão pela qual precisamos entender os sonhos.
É justamente esse o problema: jamais podemos responder o que fazer com essa maldita natureza ctônica do homem. A única resposta é o inconsciente, e então naturalmente diremos:
"Ah!, o inconsciente! O que ele sabe? O que pode vir de lá?"
Como se soubéssemos.
Como se conhecêssemos a natureza.
Como se soubéssemos qualquer coisa sobre a psique.
Mas vejam, o Homem Velho de dois milhões de anos, ele deve saber alguma coisa.
Há um Grande Homem em nós e é isso que chamamos inconsciente.
É algo que reage, pois temos sonhos em tais condições.
... necessita do saber para ser capaz de interpretar o que o inconsciente diz [a linguagem dos símbolos].
E, acima de tudo, precisa ter coragem, precisa ter coragem de acreditar em sua própria interpretação...
... Precisamos saber que o processo de individuação, isto é, a urgência de se tornar o que se é, é de uma força invencível.
Podemos sempre contar com isso e podemos ter certeza que o inconsciente - caso nós não estejamos interessados em nosso próprio destino - o inconsciente está!
A hybris (arrogância / orgulho) do intelecto não nos leva a lugar algum.
Por isso, precisamos aceitar o que o inconsciente produz e cabe a nós entender a sua linguagem.
É uma linguagem da natureza. Não é a nossa linguagem, é a lógica da natureza, a inteligência da natureza e a moralidade da natureza que precisa ser traduzida para uma forma humana.
A forma é a tarefa.
E vejam, essa é a razão da dignidade do homem. Ele traz sentido para a criação...
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